Um dos “unicórnios mágicos” da Amamentação…
Será possível dar de mamar a mais do que um bebé ao mesmo tempo? E em exclusivo durante os primeiros 6 meses de vida? Será que alguém já o conseguiu?
Eu costumo brincar com o facto de que, até engravidar pela primeira vez, as minhas mamas eram tão pequenas quanto um ovo… estrelado! Eu usava copa AA e ainda assim parecia que não a enchia. Portanto uma das minhas primeiras dúvidas quando engravidei foi precisamente “será que vou ter leite suficiente para poder amamentar a minha bebé?” Rodeei-me de informação baseada em evidências, juntei me a grupos de amamentação virtuais e presenciais (como o da La Leche League) e as dúvidas foram virando certezas. A minha filha nasceu e eu tive uma subida de leite estrondosa ao 2o dia de pós parto, tanto que a minha doula na altura teve que me vir ajudar e tivemos que ir comprar uma bomba de extração a correr porque já tinha o peito empedrado… Estive 1 mês a tentar corrigir a pega e falei quase com uma dezena de CAM’s diferentes até que um dia, acertei com a pega! E amamentei-a quase 8 meses em exclusivo (e depois até aos 4 anos e meio de idade).
Por isso, quando voltei a engravidar, desta vez de gémeas, achava que já estava um Ás das mamocas, apesar de já não amamentar há 1 ano. Elas pegaram logo no pós-parto, apesar de ter sido uma cesariana programada. A cirurgia tinha corrido tão bem que nem estivemos no recobro: elas vieram logo comigo para o quarto e, claro que a primeira coisa que lhes fizemos foi despi-las de toda a roupa fofinha que as enfermeiras da neonatologia pressurosamente lhes tinham vestido e pô-las em pele-com-pele comigo debaixo das cobertas, à procura do mamilo.
Mas, obviamente, a vida tratou de me manter humilde. Passado 3 dias, tive novamente uma subida de leite astronómica (possivelmente porque tinha duas boquinhas a estimular a produção), e voltei a ficar empedrada. Mas eu tinha feito o meu TPC: uma lista de contactos de CAM’s para ligar se fosse preciso. Naquele momento eu já tinha esgotado a minha capacidade de agir para resolver a situação sozinha – então recorri à minha “Fada das mamas”, uma Enfermeira e CAM com muita experiência em Amamentação, que veio a nossa casa e extraiu manualmente o leitinho das minhas mamas até elas deixarem de estar empedradas e as gémeas conseguirem pegar novamente. E ensinou-nos uma posição fisiológica alternativa para as colocar, baseada no biological nurturing, em que as sentavamos apoiadas em almofadas em frente às maminhas e elas conseguiam pegar e mamar melhor. E foi a ajuda que precisámos para estabelecer a amamentação. Tinha uma bebé mais mamona que outra, o que é perfeitamente normal, de tal forma que ela tinha nascido com menos 200g que a outra e passado umas semanas pesava ela mais 200g.
As primeiras semanas foi a loucura total, os dias fundiam-se com as noites e o cansaço era enorme… valeu-me o pai que estava de licença, e a minha mãe, que me apoiava nas tarefas de casa, e me permitiam ter mais disponibilidade para estar a amamentar. A minha doula também contactou uma lista de amigos e organizou um calendário de refeições durante o primeiro mês das gémeas, que nos permitiu não ter que fazer compras ou refeições por um mês inteiro, o que foi uma grande, grande ajuda.
Algo que percebi muito cedo era que se coordenasse as mamadas (em vez de dar mama quando cada uma acordava) reduzia e optimizava o tempo a dar maminha: se uma acordasse, pegava na outra e metia-as às duas no peito. Isso permitia me ter mais tempo para dormir/descansar. Também aprendi a relaxar mais e a aproveitar cada tempinho livre para descansar ou dormir em vez de me pôr a fazer tudo… e a criar listas prioritárias de tarefas, geralmente só conseguia tratar de 1 ou 2 coisas por dia para além das miúdas, e deixei de ter a expectativa de conseguir fazer mais do que isso para não me frustrar.
Aos 3-4 meses notava que a mais magrita andava mais irritada e chorava ao mamar… passado um mês já estava desesperada mas perguntei num grupo de amamentação no facebook e sugeriram que visse a boquinha dela para manchas brancas: estava cheia de sapinhos e até eu já sentia picadas ao dar de mamar… fizemos tratamento e ela melhorou em poucos dias, por isso se sentirem que algo não está bem, peçam ajuda até conseguirem resolver
Houve vezes que parecia impossível, outras em que foi difícil, outras ainda em que era só doçura, e muitas em que foi uma salvação. Leite materno. Aos 6 meses, com 5900g e 6100g, eram bebés felizes com a sua mama. A diversificação alimentar decorreu sem pressas durante o primeiro ano, e elas mamaram alegremente até terem 5 anos e meio, sendo que no último ano, até partilharam as maminhas com a irmã mais nova que tinha nascido entretanto
Maria Pereira
Mãe de 4, e 11 anos a amamentar…