Integrar a nossa história de parto é um processo. Não é um momento. E como qualquer luto, às vezes pode parecer que damos um passo à frente e dois atrás. Sentimos que estamos a encaixar, e derrepente algo despoleta a mesma dor, e parece que aconteceu ontem.
Por mais que preparemos várias cenários, preenchamos um plano de parto digno de ser emoldurado, detalhado, um verdadeiro reflexo de toda a informação que conhecemos, recolhemos, em equilíbrio perfeito com aquilo que são os nossos valores, vontades e expetativas. A verdade é que nada é garantido. No parto, como na vida.
Nem com a preparação para o parto?
Com a doula?
A fisio?
O spinning babies?
Os cuidados de nutrição?
Exercício?
Repouso?
O plano A,B,C….Z?
A “tens machine”?
Não ir para o hospital “cedo demais”?
Saber a evidência na ponta da língua?
Ter feito tanta reflexão emocional?
Nem assim. Não me interpretes mal, são coisas que a evidência demosntrou aumentar as tuas hipóteses de um parto fisiológico, vaginal, “natural” como gostam tanto de lhe chamar. (Ok, talvez não a Tens Machine).
Mas o parto é imprevisível, e às vezes, os bebés também sabem como querem nascer. E por vezes percebemos exatamente porque tinha de ser assim. Por vezes não.
Mas de onde vem esse sentimento negativo? Porque sentes que falhaste? O que faltou? De quem é a “culpa”?
Se ao menos houvesse um bode espiatório tudo seria mais fácil…
Foi porque o meu hospital de eleição estava em contigência?
Foi porque na reta final a bebé nunca desceu?
Foi aquilo que me disseram de ser grande, que me assustou e retirou a confiança?
Foi a história do meu último parto que nunca me saiu da cabeça?
Foi porque uma vez cesariana sempre cesariana? Aquela profecia maldosa que me ficou a ecoar na cabeça?
Gostava de ter respostas concretas para te dar. Algo muito claro a apontar. Como um obstáculo no caminho, algo impossível de se prever que certamente determinou o resultado. Mas não. Não tenho nada. Só te posso dizer que nestas coisas, não deve haver certo nem errado. Nem culpa, nem vergonha. Como se de alguma forma o teu corpo não tivesse estado à altura. Que ideal é esse que colocamos a nós próprias? Quem o impôs? De onde é que isso vem? Quem determinou que quem tem parto fisiológico ganha medalha de ouro? Quem tem um vaginal instrumentado /indução/ epidural tem medalhinha de prata? E às cesarianas cabe a medalha de bronze, ou a palmadinha nas costas com prémio de participação? Mais uma forma de classificar as mulheres mediante o seu valor? Nada disso. Não obrigada.
Há mais do que uma forma “certa” de se ter um bebé.
January Harshe, em Birth Without Fear, é que o disse bem: “Não me importa que tipo de parto que tiveste… um parto domiciliar, uma cesariana programada, um parto com epidural no hospital ou se pariste sozinha na floresta ao lado de um veado bebé. O que me importa, é que tiveste opções, foste apoiada nas tuas escolhas, e respeitada.”
E se não foste, que vergonha para eles. Não carregues esse fardo.
Com amor e respeito,
A tua doula Sara.
Dedicada a todas as mãe de cesariana com quem já caminhei.